Queremos um país padrão Fifa

Não é por 20 centavos. No caso da Copa, são R$ 28 bilhões a serem gastos nas 12 cidades-sede do Mundial de 2014, número atualizado na última terça-feira pelo secretário-executivo do Ministério do Esporte, Luiz Fernandes. De abril a junho, os valores da Matriz de Responsabilidade, documento que apresenta os investimentos para a Copa, apontam aumento de R$ 2,5 bilhões neste orçamento variável.

O aditivo tem relação direta com os gastos extra com Maracanã e Mané Garrincha - estádios mais caros do país e últimos a serem entregues.  O custo da arena carioca saltou de R$ 800 milhões para R$ 1,049 bilhão, enquanto Brasília fechou a conta em R$ 1,2 bilhão.  A atualização dos dados leva em conta ainda, em sua maioria, obras de mobilidade urbana, diz o secretário-executivo: 51 ao todo.  Em julho, novos números serão divulgados.

Claro, não é só o Mundial, muito menos o aumento de 20 centavos na passagem, mas o momento, o contexto e a oportunidade criaram uma animosidade contra a Copa - das Confederações ou do Mundo. O discurso pronto é pouco inteligente: “Com o dinheiro de um estádio poderiam ser construídos tantos hospitais”. Balela! Mais inteligentes foram os cartazes no Castelão: “Queremos hospitais padrão Fifa”. Na verdade, tudo o que queremos é um país melhor - com Copa, melhor ainda. Boa parte do Brasil quer ver de perto os craques que só assistimos na tevê, acredita na ideia de que um evento deste porte poderia atrair investimentos, capacitar mão de obra, gerar empregos, incrementar o turismo. A pergunta é: a que custo? Certamente o que incomoda mais que os R$ 28 bilhões previstos até 2014 - R$ 4,7 bilhões deles gastos só nos seis estádios da Copa das Confederações -,  é o uso desse dinheiro, boa parte de origem pública. O atual legado da Copa são as novas arenas, não as obras de infraestrutura prometidas para as 12 cidades-sede.

Aí, quando Neymar desfila o talento que faltava à Seleção e o grito de gol desentala da garganta tão alto quanto os de protesto, surge a dicotomia alegria-indignação. E o Brasil fica dividido em duas multidões - lado de fora,  lado de dentro. Que culpa têm Neymar, David Luiz, Thiago Silva, Hulk, Lucas - jovens como a maioria dos que ganharam as ruas nos últimos dias num brado legítimo por mudanças? São crianças realizando o sonho de disputar um Mundial no seu país, diante do seu povo, correndo para abraçar a mãe na arquibancada. No bolso deles, não entra um centavo sequer dos R$ 28 bilhões investidos na Copa, o que não pode se dizer de todos os envolvidos no Mundial do Brasil.

Fifa 
Para a entidade, o que para nós é sonho não passa de um negócio rentável movido à paixão. Estudo da consultoria BDO indica que a Fifa vai lucrar cerca de R$ 10 bilhões na Copa do Mundo do Brasil - 36% a mais que o arrecadado na África do Sul. É padrão Fifa construir arenas, mesmo em países que não precisam (o que não é o nosso caso).  Mas não há crime de lesa-pátria, já que a pátria lesada (?) conhece nos mínimos detalhes o pacote imposto assim que assina o acordo para receber o Mundial.  Não fomos enganados - a indignação, especificamente com a Copa, só veio com atraso.

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