O meteorito que caiu na Bahia

Em 1784 o lavrador Joaquim de Mota Botelho procurava uma vaca desgarrada no semiarido baiano, nas proximidades de Canudos, e deparou-se com uma pedra gigante encravada no chão: era um meteorito. A queda do aerolito dos sertões que então passou a ser denominado de “Pedra do Quitá” e mais tarde Bendegó, que na língua dos índios Quiriris significava “vindo do céu”, não foi  testemunhada. Não se sabe o ano em que efetivamente ocorreu o incidente com o asteróide; Bendegó era então um lugar ermo, desabitado.

O Governador da Bahia D. Rodrigo de Menezes, informado do relato do lavrador, encarregou o capitão-mor de Itapicuru de remover e transladar a pedra que então se imaginava continha partículas de prata e outros minerais de valor. Construiram um precário carro de bois e colocaram vinte búfalos que arrastaram o bloco até as margens do riacho Bendegó onde se quebrou o eixo. O meteorito emborcado foi parar no leito do rio, enterrando numa areia mole. Ali permaneceu 104 anos, na mesma posição em que os cientistas batavos Von Martius e Von Spix o encontraram em 1818 e então estimaram seu peso em 5.360 quilos e o descreveram como “bloco de ferro com propriedades magnéticas”.
Em 1884, a pedido  de Orville Dervy, o engenheiro Theodoro Sampaio viajou pelo sertão do Vaza-Barris com o objetivo de localizar o meteorito descrito pelos sabios alemães. Identificado o local, Dervy informou as coordenadas à Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro que então empreendeu uma nova tentativa de trasportar o aerolito. O Marques de Paranaguá sugeriu que o Museu Nacional na capital do país seria o destino final da pedra e o Governador da Bahia não fez objeção.


Em 7 de setembro de 1887 começou a remoção do bloco. O Barão de Guahy, Joaquim Elísio Pereira Marinho, filho do Conde Pereira Marinho, um dos maiores comerciantes de escravos da Bahia, banqueiro e próspero homem de negócios no seu tempo; pagou os custos da remoção do meteorito para o Rio de Janeiro. Para a empreitada foi construida uma carreta de ferro, montada sobre rodas de flange e de madeira que rodava sobre trilhos. O bloco viajou 113 quilometros por terra durante seis meses para embarcar em janeiro de 1888 no vapor “Arlindo”.

Desde então o maior meteorito que já caiu sobre o Brasil, no semiarido baiano, permanece em exposição no Museu Nacional. A literatura de Cordel não deixou barato o episódio da primeira tentativa de remoção, nos versos de José Aras: “Construiram carretão/De madeira resistente/Levaram a pedra encima/Mas foi improducente/Tombou e queimou o eixo/E matou os bois da frente”.




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