Falta poupança por Miriam Leitão
O vento está contrário ao investimento justamente no momento em que o país mais precisa. A tendência é de aumento dos juros no mundo e a desaceleração da China traz menos dólares via comércio. A volatilidade dos indicadores afasta o financiamento externo, e o consumo das famílias e os gastos do governo reduzem a taxa de poupança. É nesse contexto que acontecem as concessões de infraestrutura.
A Anbima reuniu em São Paulo um amplo time de economistas do governo e do setor privado para discutir o financiamento do investimento. O desafio é enorme porque a nossa taxa de poupança é muito baixa e o déficit em conta-corrente já é alto demais. A primeira caiu a 16,6% do PIB. O segundo saltou para 3,6%. A soma das duas poupanças (a interna e a externa) não é suficiente para elevar a taxa de investimento a 24%, como pretende o Ministério da Fazenda.
É preciso poupar, mas o governo continua estimulando o consumo e gastando demais. Ninguém sabe de onde virão os recursos que vão financiar projetos de longo prazo. O próprio Ministério da Fazenda reconhece que não é possível sustentar o PIB com incentivo ao consumo. O economista-chefe do banco BNP Paribas, Marcelo Carvalho, lembra que cumprir o superávit primário ajudaria muito.
— A economia precisa trocar de motor com o carro andando. Pisar mais fundo no acelerador do consumo só vai produzir fumaça — explicou.
O país precisa acelerar no pedal do investimento, mas para isso o governo e as famílias precisam poupar. O chairman do Goldman Sachs Brasil, Paulo Leme, chama atenção para a forte volatilidade dos indicadores, como aconteceu com o dólar, a conta-corrente, balança comercial, PIB, inflação. Tudo isso criou um ambiente de incerteza e fez o investidor estrangeiro ficar retraído.
— O problema de despoupança é muito sério no Brasil; o setor púbico tem poupança negativa, põe peso no setor privado, que também está reduzindo a sua poupança. A corda está encolhendo. Mas o estrangeiro gosta do país, se o cenário macro estabilizar, ele voltará — disse.
Se não bastasse o cenário mundial mais complexo, o governo ainda tem mexido demais nas regras de concessão, criando outra fonte de incerteza. Não é por acaso que muitos leilões têm sido adiados e os lances e número de consórcios quase sempre têm ficado abaixo das expectativas.
“Quanto mais simples e estável, melhor. Se isso for feito, o investidor estrangeiro virá para o Brasil. Keep it simple.”
Paulo Leme
Chairman do Goldman Sachs Brasil, sobre as mudanças nos marcos regulatórios de infraestrutura no país
Esforço lá, relaxamento aqui
O governo Barack Obama tem comemorado a redução do déficit público no país. Em 2009, o resultado nominal do governo central foi negativo em 12,9% do PIB, com gastos enormes para o salvamento dos bancos. Com o arrocho no orçamento, os números estão melhores e a projeção do FMI é que o déficit caia para 5,7% este ano e chegue a 3,9% em 2015. O Brasil, segundo o Fundo, deve ter uma piora entre 2013 e 2014, para voltar a reduzir o déficit no ano seguinte.
Em outra direção. O Brasil continua sendo exceção na América Latina quando o assunto é juros. Enquanto os bancos centrais de México, Chile e Peru reduzem a taxa, o do Brasil, por causa da inflação alta, eleva a Selic, como destaca, em relatório, o Itaú BBA.
A Anbima reuniu em São Paulo um amplo time de economistas do governo e do setor privado para discutir o financiamento do investimento. O desafio é enorme porque a nossa taxa de poupança é muito baixa e o déficit em conta-corrente já é alto demais. A primeira caiu a 16,6% do PIB. O segundo saltou para 3,6%. A soma das duas poupanças (a interna e a externa) não é suficiente para elevar a taxa de investimento a 24%, como pretende o Ministério da Fazenda.
É preciso poupar, mas o governo continua estimulando o consumo e gastando demais. Ninguém sabe de onde virão os recursos que vão financiar projetos de longo prazo. O próprio Ministério da Fazenda reconhece que não é possível sustentar o PIB com incentivo ao consumo. O economista-chefe do banco BNP Paribas, Marcelo Carvalho, lembra que cumprir o superávit primário ajudaria muito.
— A economia precisa trocar de motor com o carro andando. Pisar mais fundo no acelerador do consumo só vai produzir fumaça — explicou.
O país precisa acelerar no pedal do investimento, mas para isso o governo e as famílias precisam poupar. O chairman do Goldman Sachs Brasil, Paulo Leme, chama atenção para a forte volatilidade dos indicadores, como aconteceu com o dólar, a conta-corrente, balança comercial, PIB, inflação. Tudo isso criou um ambiente de incerteza e fez o investidor estrangeiro ficar retraído.
— O problema de despoupança é muito sério no Brasil; o setor púbico tem poupança negativa, põe peso no setor privado, que também está reduzindo a sua poupança. A corda está encolhendo. Mas o estrangeiro gosta do país, se o cenário macro estabilizar, ele voltará — disse.
Se não bastasse o cenário mundial mais complexo, o governo ainda tem mexido demais nas regras de concessão, criando outra fonte de incerteza. Não é por acaso que muitos leilões têm sido adiados e os lances e número de consórcios quase sempre têm ficado abaixo das expectativas.
“Quanto mais simples e estável, melhor. Se isso for feito, o investidor estrangeiro virá para o Brasil. Keep it simple.”
Paulo Leme
Chairman do Goldman Sachs Brasil, sobre as mudanças nos marcos regulatórios de infraestrutura no país
Esforço lá, relaxamento aqui
O governo Barack Obama tem comemorado a redução do déficit público no país. Em 2009, o resultado nominal do governo central foi negativo em 12,9% do PIB, com gastos enormes para o salvamento dos bancos. Com o arrocho no orçamento, os números estão melhores e a projeção do FMI é que o déficit caia para 5,7% este ano e chegue a 3,9% em 2015. O Brasil, segundo o Fundo, deve ter uma piora entre 2013 e 2014, para voltar a reduzir o déficit no ano seguinte.
Em outra direção. O Brasil continua sendo exceção na América Latina quando o assunto é juros. Enquanto os bancos centrais de México, Chile e Peru reduzem a taxa, o do Brasil, por causa da inflação alta, eleva a Selic, como destaca, em relatório, o Itaú BBA.
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