Índice quer medir felicidade do brasileiro
Estudo da FGV em parceria com Movimento Mais Feliz busca respostas ausentes em indicadores como PIB e IDH, a fim de nortear políticas públicas
Índices diversos tentam mensurar a felicidade, como se mede a inflação ou a expectativa de vida. Ela já foi traduzida em números, colocada em rankings globais e pesada em indicadores econômicos. Mas é possível calcular o bem estar do brasileiro?
Índices diversos tentam mensurar a felicidade, como se mede a inflação ou a expectativa de vida. Ela já foi traduzida em números, colocada em rankings globais e pesada em indicadores econômicos. Mas é possível calcular o bem estar do brasileiro?
Essa é a resposta que o departamento de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) quer encontrar, junto com o Movimento Mais Feliz e a rede social MyFunCity, quando tiver concluído a metodologia do Índice de Bem Estar Brasil (Well Being Brazil, ou WBB, em inglês), com lançamento previsto para dezembro deste ano.
A intenção é que o WBB sirva de complemento, e não de substituto, a indicadores existentes, como PIB (Produto Interno Bruto) e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), como explica o professor da FGV-EAESP e um dos idealizadores do projeto, Fábio Gallo. É muito cedo, contudo, para entender a relação entre bem estar social e crescimento econômico. Por enquanto, há centenas de perguntas e nenhuma resposta.
O ponto de partida do estudo – um questionário ainda sigiloso que vai consultar a população a partir do dia 2 de abril – avaliará as expectativas em dez critérios: educação, segurança, saúde, família, redes de relacionamento, governo, consumo, sustentabilidade, mobilidade e trabalho e dinheiro.
REDE SOCIAL
O presidente do Movimento Mais Feliz e do aplicativo MyFunCity, Mauro Motoryn, diz que as respostas, seguidas de várias etapas do estudo, ajudarão a nortear políticas públicas iniciadas por governos locais, terceiro setor e até empresas privadas.
“A iniciativa já começou com o MyFunCity, uma rede social focada em gestão pública, premiada no mês passado pela ONU como melhor plataforma do mundo”, conta Motoryn. A ideia é reunir a opinião dos usuários, em um mapa interativo, sobre temas como transporte público, lazer, trânsito e limpeza. Assim, governantes e cidadãos podem identificar os problemas locais, rua a rua.
Uma proposta de emenda constitucional (PEC), que deve ser votada em maio, quer colocar a palavra felicidade na Constituição brasileira. A iniciativa partir de vários movimentos, entre eles o Mais Feliz, para incluir como “essenciais à busca da felicidade”, no artigo 6º, direitos sociais como educação, saúde, alimentação e moradia.
Alguns países já criaram seus próprios indicadores de felicidade, como o Butão, que lançou nos anos 1970 a Felicidade Interna Bruta (FIB). Há também o Índice Planeta Feliz (Happy Planet Index), que compara o nível de felicidade em vários países. O Índice de Prosperidade Legatum, divulgado pela Forbes, tem seu ranking anual (veja a lista).
Com tantos índices pelo mundo, porque o Brasil precisa criar o seu próprio? “Entendemos que os índices existentes poderiam não refletir nossa realidade, com grandes diferenças regionais”, justifica Gallo, da FGV, que acredita que o FIB, que substitui o PIB no Butão, embora seja um sucesso internacional, reflete uma realidade particular. “É um país pequeno, isolado, com reinado, cultura e ambiente sócioeconômico próprios”.
Já o Brasil, com dimensão continental, pode apresentar disparidades gritantes. “Não entendemos como certos ambientes criam índices com base em pesquisas gerais ou apenas parâmetros objetivos”, diz o pesquisador.
Gallo cita a educação como exemplo. “Queremos saber qual seu peso em cada parte do país”. Nas regiões Sul e Sudeste, onde o índice de analfabetismo é menor e há mais concentração de universidades, o sonho do cidadão pode ser fazer um doutorado. No Norte, onde a educação é mais precária, pode ser apenas aprender a ler.
Para o cidadão que mora sobre palafitas, onde há enchentes periódicas, talvez seja mais importante ter acesso à previsão do tempo do que ter um banheiro em casa. Hipóteses como estas o estudo pretende confirmar ou descartar.
ECONOMIA
O Brasil é hoje a sétima economia do mundo, mas está apenas na 85ª posição do IDH. “Se somos tão ricos, porque perdemos em desenvolvimento humano até para nossos vizinhos latino-americanos?”, questiona o professor da FGV. O recente aumento da renda e ascensão da classe média podem indicar melhora na economia, mas não mostram se o bem estar da população evoluiu na mesma medida, segundo Gallo.
Para o economista da consultoria LCA, Francisco Pessoa, nem o PIB, que seria o indicador oficial do bem estar de uma população, explica sozinho a realidade social e econômica de um país. “O PIB pode ser visto como um quadro impressionista. De longe, é assimilável, mas de perto, sua imagem é indefinida e não representa um retrato fiel da realidade”.
A intenção é que o WBB responda a questões ainda sem resposta, mas é cedo para saber se elas serão satisfatórias. “Em dezembro, vamos descobrir se o estudo foi um sucesso ou um fracasso”, finaliza o pesquisador da FGV.
CONHEÇA ÍNDICES QUE MEDEM O BEM ESTAR
FIB (Felicidade Interna Bruta)
No Butão, um distante país asiático, o PIB não é a única referência para medir o progresso. O rei do país, Jigme Singye Wangchuck, criou o FIB em 1972, baseado no princípio de que o desenvolvimento social depende de fatores espirituais e materiais em conjunto.
IQD (Índice de Qualidade do Desenvolvimento)
Medido pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), este índice calcula o desenvolvimento do país com base no crescimento, qualidade da inserção externa e bem-estar.
Índice de Gini
Mede a desigualdade social de um país pela distância entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres. Quanto maior ela for, pior a situação do país. Foi criado pelo italiano Corrado Gini, em 1912.
IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)
Estima a qualidade de vida dos países levando em conta a renda per capita, saúde (expectativa de vida), educação e questões ambientais. O Brasil ficou na 85ª posição em 2012, entre os 187 países que compõem o índice.
Índice de Prosperidade Legatum
Divulgado pela Forbes e o Instituto Legatum, faz uma relação anual dos países mais felizes do mundo. Leva em conta níveis de riqueza, satisfação de vida ou de desenvolvimento dos países.
Índice do Planeta Feliz
Originalmente conhecido como The Happy Planet Index (HPI), este índice mede dados globais de expectativa de vida, bem estar social e medidas ambientais. Tem em seu ranking 151 países. O Brasil ficou em 21– lugar em 2012.
Fonte: IG
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