Visita de Obama marca busca por novo diálogo entre Brasil e EUA
Depois de mais de dois anos de espera, os brasileiros recebem neste sábado a visita do presidente americano, Barack Obama, em uma viagem cercada pela expectativa de que ambos os países abram caminho para uma nova fase nas relações bilaterais.
Após um certo distanciamento durante os últimos anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva, provocado por posições divergentes em temas como o programa nuclear do Irã, a Casa Branca indica que a visita é uma oportunidade de recomeço nas relações, agora com a presidente Dilma Rousseff.
“Ela tem sido muito positiva sobre o tipo de relacionamento que quer buscar com os Estados Unidos. Nós vemos uma enorme convergência de interesses entre o Brasil e os Estados Unidos e um enorme momento de oportunidade”, disse o vice-conselheiro de segurança nacional para comunicações estratégicas da Casa Branca, Ben Rhodes.
O presidente americano chega com o objetivo de aumentar o comércio e os investimentos no Brasil, especialmente nas áreas de energia e infraestrutura, que ganharam maior destaque com as descobertas de petróleo na camada do pré-sal e com a realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.
No âmbito político, o governo brasileiro gostaria de ouvir de Obama uma declaração pública de apoio à entrada do Brasil como membro permanente em um Conselho de Segurança da ONU ampliado – assim como a feita por Obama a outro grande emergente, a Índia, durante visita dele a Nova Déli no ano passado.
Às vésperas da viagem, porém, a expectativa é de que somente uma referência à necessidade de reformar o Conselho de Segurança seja incluída no comunicado final da visita. A Casa Branca admite que a reforma será discutida pelos dois presidentes, mas não dá indicação mais forte de que Obama vá conceder o tão esperado apoio público ao Brasil.
Segundo analistas, o voto contrário do Brasil a novas sanções contra o Irã, no ano passado, ainda não foi superado e representaria um impedimento ao endosso mais explícito à ambição brasileira de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança.
Discurso
Obama chega a Brasília na manhã de sábado, acompanhado da primeira-dama, Michelle, e das filhas do casal, Sasha e Malia. O primeiro dia da agenda deverá ter um perfil mais de negócios. Além da reunião com Dilma, no Palácio do Planalto, Obama deverá marcar presença em dois encontros bilaterais de empresários.
No sábado à noite, Obama e a família seguem para o Rio, onde o presidente fará um grande discurso no domingo, no Teatro Municipal (orinalmente marcado para ser ao ar livre na Cinelândia), que será centrado nas relações bilaterais e no papel do Brasil no mundo. As relações dos Estados Unidos com a América Latina ficarão para outro pronunciamento, no Chile, para onde Obama viaja na segunda-feira.
Segundo a Casa Branca, no discurso do Rio, Obama deverá passar a mensagem de que os Estados Unidos saúdam o fato de o Brasil exercer “um papel substancialmente maior no cenário global”. “Nós queremos remodelar a arquitetura internacional para melhor refletir essa realidade e demonstrar, novamente, que acolhemos o fato de uma nação como o Brasil buscar um papel maior no cenário global, particularmente uma nação como o Brasil, que compartilha uma série de valores conosco”, disse Rhodes.
A visita ocorre em um momento em que cresce a visão positiva dos americanos sobre o Brasil. Uma pesquisa encomendada pelo Serviço Mundial da BBC e divulgada neste mês indica que a imagem positiva do Brasil junto aos americanos saltou de 42% para 60%.
“O Brasil é visto como um país bem-sucedido, que está crescendo, ganhando maior importância no mundo”, disse à BBC Brasil o brasilianista Peter Hakim, presidente emérito do instituto de análise política Inter-American Dialogue, com sede em Washington.
Acordos
No Rio, Obama deverá ainda visitar a favela de Cidade de Deus e a estátua do Cristo Redentor. A viagem – a primeira do presidente à América do Sul – inclui também Chile e El Salvador.
Como indicação do caráter de negócios da viagem, a comitiva de Obama é integrada por vários ministros da área econômica, mas não tem a participação da secretária de Estado, Hillary Clinton. Com o presidente, também chegarão ao Brasil dezenas de empresários americanos, que pretendem explorar perspectivas de investimento em setores como petróleo e gás no Rio.
“O Brasil é um parceiro crucial e uma parada crucial nesta viagem”, disse Rhodes, ao lembrar que o país é um mercado emergente em crescimento. Atualmente, o Brasil tem com os Estados Unidos seu maior déficit comercial, de quase US$ 8 bilhões.
No entanto, não são esperados grandes anúncios. Ao comentar a previsão de assinatura de acordos durante a visita, o conselheiro da Casa Branca disse que não se deve esperar nada “transformador”. “(Os acordos a serem firmados) são mais parte do esforço em andamento para construir relações mais profundas”, disse Rhodes.
Alessandra Corrêa
BBC Brasil / Washington
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