A saga de Bomfim
Como um ex-menino de rua, que dormia na rodoviária e entregava folhetos, se transformou no dono de uma escola de animação em 3D.
Por Carlos Eduardo Valim
Quem conhece o baiano de Salvador Alessandro Bomfim sabe que os seus 33 anos de vida poderiam se transformar em um enredo de Hollywood, com drama, lágrimas e um final feliz.
Não se trata de exagero. Ex-menino de rua, ele é hoje dono da Saga, uma escola de informática, com faturamento de quase R$ 9 milhões e cinco unidades em quatro capitais brasileiras, que ensina a jovens técnicas de animação em 3D.
"Prometi a mim mesmo que seria rico aos 25 anos"
Alessandro Bomfim, dono da Saga
Em suas salas de aula, quatro mil alunos aprendem a utilizar os softwares mais modernos de animação gráfica, a exemplo dos que produziram os efeitos visuais de filmes como Avatar e O curioso caso de Benjamim Button.
Mas a saga (esta com s minúsculo mesmo) do empresário para conseguir fazer sucesso é cheia de idas e vindas. “Prometi a mim mesmo que um dia ficaria rico”, afirma Bomfim.
O empreendedor divide o enredo da própria vida em três atos. O primeiro, que durou até os sete anos de idade, ele chama de paraíso. Filho de um jovem casal de Salvador, foi criado pela avó, no Rio de Janeiro, até ela sofrer um derrame cerebral.
Com esse primeiro golpe do destino, começou o segundo ato: o inferno. Trata-se do período que se estendeu até os 20 anos. Foi nessa época que Bomfim fugiu de casa, por conta da violência doméstica do padrasto, e foi morar na rua e em pensões no Rio de Janeiro, entregando folhetos e lavando carros em troca de comida.
A cena final desse filme pode ser batizada de renascimento. Tem início quando ele consegue emprego para vender cursos na escola de informática AIS (que depois viria a se chamar Saga).
Em pouco tempo, Bomfim se destacou e se transformou em gerente de uma unidade deficitária em Niterói, no Rio de Janeiro. Em seis meses, ela a transformou na mais lucrativa da rede.
O sucesso levou-o a ser convidado a coordenar a escola de Copacabana. Ousado, o ex-menino de rua fez um acordo com os antigos donos e conseguiu 12% do negócio. “Negociei uma participação, para compartilhar os riscos e os ganhos”, diz Bomfim.
Atualmente, radicado no Rio de Janeiro, divide o controle da escola, com dois sócios. Em 2009, rebatizou a AIS de Saga e fez uma virada estratégica. Em vez de ensinar os alunos a operar programas de automação de escritório, como o processador de texto Word ou a planilha eletrônica Excel, resolveu apostar em cursos de animação em 3D.
Até aqui, pelo menos, a estratégia parece estar dando certo. O número de alunos, que era de 2,9 mil em 2009, cresceu 40% em 2010. Bomfim deu início, também, à expansão geográfica da empresa.
Há dois anos, a Saga tinha unidades em São Paulo, Recife e Salvador. No ano passado, abriu mais duas escolas: mais uma na capital paulista e outra em Brasília. Em 2011, o objetivo é ampliar a presença em São Paulo e chegar a Belo Horizonte.
“Em cada região, damos cursos de acordo com o mercado local”, diz Bomfim. “Em Salvador, por exemplo, os cursos são voltados para formar profissionais para marketing e publicidade.”
Com a mudança de área, ficou mais caro abrir uma nova unidade da escola. Antes, ele gastava até R$ 150 mil. Hoje, são necessários pelo menos R$ 500 mil. O aumento se justifica: para ensinar animação em 3D, é preciso computadores mais potentes. Outro fator é o elevado preço dos softwares.
O Maya, da Autodesk, um dos mais populares programas dessa área, custa acima de US$ 3 mil e é muito mais caro do que as ferramentas básicas da Microsoft. Nessa ampliação, Bomfim estima que vai investir cerca de R$ 3 milhões.
“Há alguns anos, os cursos de animação eram muito precários”, diz o premiado diretor de animação Arnaldo Galvão, da produtora Um Filmes, de São Paulo. “Agora, os alunos são bem formados, tanto nas faculdades quanto em cursos técnicos”.
Para Galvão, o mercado de animação em 3D tem grande potencial no País, estimulado pelas emissoras de tevê por assinatura e pública. “Elas passaram a adquirir produções nacionais nos últimos anos”, diz Galvão.
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